segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Perda das obras de Hélio Oiticica mostra, mais uma vez, fragilidade na maneira como o país administra seus acervos culturais.


Obras de Hélio Oiticica, o artista plástico brasileiro de maior projeção internacional, anarquista e dono da “voz” mais radical e liberal que emergiu na cena cultural do pós-guerra se perdem em incêndio e faz surgir novo debate sobre como o país administra suas coleções e acervos culturais.

Um incêndio na casa em que morou o artista (1937 – 1980), no Rio de Janeiro, destruiu mais de mil itens da coleção. É mais um fato que mostra como é frágil a relação entre o público e o privado.

Em nota divulgada à imprensa, Jandira Feghali, secretária municipal de Cultura do Rio de Janeiro, pediu a apuração das causas do incêndio e afirmou que tentava levar o acervo do artista novamente para o Centro Hélio Oiticica, mas “(...) apesar de nossos esforços, não conseguimos trazê-lo de volta, em regime de comodato”.

Feghali criticou diretamente o curador do Projeto Hélio Oiticica e sobrinho do artista, César Oiticica Filho: "Na minha opinião, nós perdemos um acervo por uma atitude fechada do herdeiro. Meu lamento é profundo, até porque tentamos que fosse de outro jeito. Eu pessoalmente conversei com o sobrinho dele para a gente ter a cessão do acervo para o Centro Hélio Oiticica, por comodato. A gente não tem orçamento para comprar US$ 200 milhões. Poderiam não ceder todo o acervo, mas uma parte. Há que haver uma nova forma de lidar com isso e aí é uma legislação nacional".

Segundo a secretária, falta um marco regulatório no País que dê maiores condições ao Estado de dar acesso público e cuidar de obras de artistas mortos. Pela legislação atual, as obras são propriedade privada dos herdeiros dos artistas e seu uso depende de autorização deles.

Independente da briga entre a família do artista e a Secretaria da Cultura do Rio de Janeiro, mais uma vez aparece de forma trágica à maneira como o país administra seus acervos culturais. Entre roubos bizarros em museus brasileiros, brigas entre famílias e o Estado, propostas nefastas do governo, criação de museus-fantasmas (aqueles que existem só no papel)... a nossa história e cultura continua se perdendo e sendo desvalorizada. E pior, quando colecionadores (lembrar do caso Adolpho Leirner) vendem para fora suas coleções surgem protestos e todo mundo cai matando...vale frisar que, pelo menos, lá fora o “nosso patrimônio cultural” é valorizado e conservado.



2 comentários:

  1. Concordo com tudo que vc disse, arte no Brasil ainda é muito desvalorizada e mal cuidada, álias, muita coisa é assim ainda por aqui né?!
    Bjs

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  2. Também concordo com as palavras.
    O Brasil ainda tá com a cultura de dar importância as coisas pequenas, não que isso esteja errada, mas se eles mudarem o foco, muita coisa boa virá.
    Só lamento...
    abraços

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